25 novembro 2015

Curso sobre Sistemática de Lauraceae na Mata Atlântica

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Entre 3 e 8 de novembro, a bolsista Deisy Saraiva e os alunos de mestrado Rangel Carvalho e Laura Rivera viajaram até o Parque Estadual da Serra do Mar (Núcleo Cunha) em São Paulo para participar do curso “Tópicos Especiais em Biologia Vegetal: Sistemática de Lauraceae” ministrado pelo Dr. Henk van der Werff (do Missouri Botanical Garden, Saint Louis) e Dr. Pedro Luís Rodrigues de Moraes (Instituto de Biociências/UNESP Rio Claro‐SP).

Participantes do curso realizado na Mata Atlântica.

Lauraceae é uma das famílias mais diversas de Magnoliidae e uma das mais importantes na estrutura das florestas tropicais (Rohwer, 2000). Além disso, é uma importante família econômica devido a sua madeira de alta qualidade, a produção de temperos, de óleos aromáticos e frutos comestíveis (e.g. abacate, Persea americana Miller), além de usos na medicina tradicional. Ecologicamente está entre a mais diversas famílias das florestas úmidas, tendo ampla distribuição geográfica e elevada abundância, ocorrendo desde terras baixas até elevações médias nos Andes (van der Werff & Richter, 1996). Possui entre 2500 a 3000 espécies organizadas em 52 gêneros (Chanderbali et al., 2001); destes, 24 gêneros e 441 espécies ocorrem no Brasil (Quinet et al., 2015), sendo importantes componentes da composição funcional e estrutural da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia (Moraes, 2005). 

Flores de nova espécie de Ocotea.

Durante o trabalho de campo, se realizaram diversas coletas de outras famílias com o fim de aumentar a amostragem desta área. Dentre os indivíduos coletados de Lauraceae, encontramos as espécies Persea alba, P. obovata e Ocotea aciphylla, além de uma possível nova descoberta para a ciência do gênero Ocotea.

Participantes tomando o rumo da floresta para coletar amostras.

Foi uma ótima oportunidade para compartilhar experiências e receber conselhos dos especialistas dirigidos a nossos projetos de pesquisas, que atualmente estão relacionados com a história evolutiva e diversificação do complexo Licaria canella nas florestas da América do Sul, a delimitação das espécies do complexo Ocotea guianensis e a produção da Flora do Uatumã. O objetivo final é o de melhorar o desenvolvimento das pesquisas que estão sendo orientadas pelo Dr. Alberto Vicentini.


Literatura citada

  • Chanderbali, A.S.; van der Werff, H.; Renner, S.S. 2001. Phylogeny and Historical Biogeography of Lauraceae: Evidence from the Chloroplast and Nuclear Genomes. Annals of the Missouri Botanical Garden. 88: 104-134.
  • Moraes, P.L.R. 2005. Sinopse das Lauráceas nos Estados de Goiãs e Tocantins, Brasil. Bioneotropica. 5 (2):1-18
  • Quinet, A.; Baitello, J.B.; Moraes, P.L.R. de; Assis, L.C.S.; Alves, F.M. 2015. Lauraceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB143
  • Rohwer, J.G. 2000. Toward a phylogenetic classification of the Lauraceae: Evidence from matK sequences. Systematic Botany 25(1): 60-71.
  • van der Werff, H. & Richter, H.G. 1996. Toward an improved classification of Lauraceae. Annals of the Missouri Botanical Garden 83(3): 409–418.

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11 novembro 2015

Expedição de coleta para o sul da Bahia

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Mário Terra e Ricardo Braga Neto foram para o sul da Bahia coletar plantas e fungos em novembro. O objetivo foi ampliar o conhecimento sobre a distribuição das plantas e investigar a associação com fungos micorrízicos em árvores selecionadas. Abaixo segue um breve relato sobre a experiência que tiveram.


A expedição foi realizada no início de novembro de 2015 com o objetivo de coletar espécimes botânicos das famílias Sapotaceae, Lauraceae, Burseraceae e Rubiaceae, além de raízes finas de árvores selecionadas para investigar a associação com fungos micorrízicos. O principal foco foi dado para espécimes do gênero Pradosia (Sapotaceae) que o Mário estudou em seu doutorado no INPA (2009-2013). Antes de começar as coletas, visitamos o herbário CEPEC que possui uma coleção ampla e muito bem curada! O Ricardo Perdiz que hoje é aluno de doutorado no INPA é fruto desse grupo da Bahia.

Pradosia glaziovii encontrada em uma cabruca 
na estrada de Uruçuca-Serra Grande.
A consulta das localidades presentes nas exsicatas orientou a busca das plantas em campo, seja desses indivíduos previamente coletados ou de novas árvores das mesmas populações. O deslocamento foi feito de carro por estradas pavimentadas e ramais nos municípios de Santa Luzia, Una, Ilhéus, Uruçuca e Maraú.

O gênero Pradosia possui linhagens que ocorrem na Amazônia e na Mata Atlântica em solos arenosos e argilosos, tanto do clado chamado de casca doce e quanto do clado com flores vermelhas (Terra-Araujo et al. 2015). Porém, muitas espécies de Pradosia ainda são conhecidas por pouquíssimas coletas ou mesmo somente por uma única amostra! Por exemplo, P. argentea, P. cuatrecasasii, P. glaziovii, e P. mutissii eram conhecidas a partir dos tipos coletados há muito tempo e com baixa precisão na descrição da localidade.

Como consequência da falta de coletas adicionais, iniciativas que promovem a conservação biológica acreditaram que 3 das espécies estavam extintas e 10 estavam ameaçadas (IUCN red list 2012). Entretanto, o aumento do esforço de amostragem com foco no grupo tem revelado que estas espécies presumidamente consideradas extintas ou ameaçadas são mais comuns do que se acreditava. Por exemplo, uma das espécies consideradas extintas na lista da IUCN de 2014, Pradosia glaziovii (Pierre) T. D. Penn., uma árvore imensa que ocorre ao longo da costa na Mata Atlântica, era conhecida apenas para a localidade de coleta com outras amostras com identificações duvidosas datando até 180 anos atrás. O aumento do esforço de coleta e a realização de um estudo sistemático envolvendo caracteres morfológicos e moleculares mostrou que P. glaziovii é relativamente comum e que outra espécie considerada criticamente ameaçada de extinção, P. verrucosa Ducke, é na verdade um sinônimo de P. glaziovii.

Nessa excursão para o sul da Bahia encontramos novos registros para quatro espécies: P. longipedicellata, P. glaziovii, P. kuhlmannii e P. restingae. O resultado mais bacana sem dúvida foi para P. glaziovii e P. restingae. A primeira é super mal representada nas coleções botânicas e até pouco tempo atrás era tida como extinta. Já P. restingae era conhecida apenas para a região de Natal, RN. Foram coletadas ainda amostras de Ecclinusa (Sapotaceae), Pagamea (Rubiaceae), Ocotea (Lauraceae) e Protium (Burseraceae). Além das amostras coletadas, durante a visita ao CEPEC, foram fotografadas todas as exsicatas desses grupos de interesse, representando uma importante contribuição para o projeto da aluna Tatiana Carvalho que está trabalhando com Ecclinusa em seu mestrado.

Mário ficou feliz da vida ao encontrar a Pradosia glaziovii cheia de flores e frutos!
Amostra de P. glaziovii com frutos.

A coleta das amostras não foi tarefa fácil: foram necessárias duas tentativas
em dias diferentes para alcançar - e derrubar - os ramos férteis contando
apenas com um estilingue, peso e cordas.

Para avaliar qual o tipo de micorriza está presente nas espécies de Pradosia foram coletadas amostras de raízes finas de todas as espécie de Pradosia. Em breve novas expedições serão realizadas na Amazônia!


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