03 dezembro 2015

Coleta de fungos na Aldeia Mari-Mari

A saída de campo teve como objetivo coletar raízes finas de árvores e cogumelos ectomicorrízicos que ocorrem na campinarana do longo do igarapé do Mutum que cruza a Aldeia Mari-Mari em Presidente Figueiredo.

Coleta de raízes de uma espécie de Gnetum.

Localizada a cerca de 2 horas de carro de Manaus, Presidente Figueiredo abriga muitas áreas com florestas de campinarana com acesso fácil a partir dos ramais que saem da estrada de Balbina. Essa saída de campo foi realizada na Aldeia Mari-Mari, uma pousada que está incentivando a realização de pesquisas na região, oferecendo suporte para hospedagem de forma provisória até que seja construído um alojamento exclusivo para os pesquisadores interessados.

Visão da área do alojamento provisório com igarapé do Mutum ao fundo.

As florestas de campinarana são em geral mais pobres que florestas de terra firme, mas possuem uma flora e micota bastante peculiares, ocorrendo quase que exclusivamente nesses ambientes. Existem algumas plantas bastante características, como espécies do gênero Pagamea (Rubiaceae), a casca doce (Pradosia schomburgkiana, Sapotaceae) e o macucu (Aldina heterophylla, Fabaceae), mas poucas pessoas sabem que muitos fungos interessantes também só ocorrem nesses ambientes. Em geral, esses fungos exercem uma função muito importante nas florestas sobre areia branca, atuando como ectomicorrizas em que ajudam as plantas a obterem nutrientes do solo (principalmente N, P e água) em troca de alimento (principalmente C fixado na fotossíntese). Abaixo, um exemplo de um cogumelo de uma espécie bastante interessante do gênero Russula.

Russula cf. pluvialis coletada em florestas de campinarana na Amazônia central.

Destaque para a raiz de Pradosia
schomburgkiana
coletada.
Além de coletar os cogumelos, que tem função de reprodução sexuada e dispersão de esporos nos fungos basidiomicetos, eu também estou coletando raízes das árvores para ver as associações com os fungos. Estou trabalhando em meu doutorado no INPA com a influência de fungos ectomicorrízicos e patogênicos sobre a estruturação de comunidades de árvores na Amazônia e uma das limitações práticas é conseguir acessar as raízes finas - que ficam nas partes mais extremas do sistema radicular - das plantas adultas. Existe bastante variação na arquitetura das raízes das plantas da Amazônia, mas ainda estamos somente começando a investigar essas diferenças. No momento estou focando em apenas algumas linhagens de árvores da região, como plantas da família Polygonaceae, Nyctaginaceae, Sapotaceae, Fabaceae e Gnetaceae, mas no futuro pretendo ampliar essa amostragem para entender qual a importância dos fungos para a comunidade de árvores como um todo. Uma das estratégias é coletar raízes de plântulas e indivíduos jovens dessas linhagens selecionadas, mas nem sempre é fácil identificar essas plantas em campo. Sendo assim, investi na escavação de raízes de indivíduos adultos de Pradosia schomburgkiana e acabei descobrindo que não foi muito difícil encontrar raízes ramificando a partir das sapopemas. Daí, bastou apenas seguir esses ramos até chegar nas raízes finas de primeira, segunda e terceira ordens. Na foto, eu estou segurando essa ramificação das raízes de P. schomburgkiana para mostrar a extensão total desse ramo até chegar na parte especializada em absorver nutrientes nas raízes (em oposição às partes especializadas em transportar a seiva). Entretanto, não é fácil separar as raízes quando estão misturadas num emaranhado de folhas em decomposição, galhos finos e areia. Dessa forma, o tempo necessário para triar as amostrar deve ser dimensionado para não correr o risco de coletar uma amostra de outra planta por engano.

Caroço descansando enquanto Saci cavava areia atrás de raízes de Gnetum

Mas a melhor notícia foi ter tido a ilustre companhia do Caroço vasculhando a campinarana comigo... Sempre que eu encontrava algo interessante, eu prendia o danado e cavava um pouquinho com ele até que achava macio o suficiente pra tirar uma soneca! Esse já está conhecendo mais mato que muito biólogo e nem tem ainda 4 meses de idade!


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