Mário Terra e Ricardo Braga Neto foram para o sul da Bahia coletar plantas e fungos em novembro. O objetivo foi ampliar o conhecimento sobre a distribuição das plantas e investigar a associação com fungos micorrízicos em árvores selecionadas. Abaixo segue um breve relato sobre a experiência que tiveram.
A expedição foi realizada no início de novembro de 2015 com o objetivo de coletar espécimes botânicos das famílias Sapotaceae, Lauraceae, Burseraceae e Rubiaceae, além de raízes finas de árvores selecionadas para investigar a associação com fungos micorrízicos. O principal foco foi dado para espécimes do gênero Pradosia (Sapotaceae) que o Mário estudou em seu doutorado no INPA (2009-2013). Antes de começar as coletas, visitamos o herbário CEPEC que possui uma coleção ampla e muito bem curada! O Ricardo Perdiz que hoje é aluno de doutorado no INPA é fruto desse grupo da Bahia.
Pradosia glaziovii encontrada em uma cabruca na estrada de Uruçuca-Serra Grande. |
O gênero Pradosia possui linhagens que ocorrem na Amazônia e na Mata Atlântica em solos arenosos e argilosos, tanto do clado chamado de casca doce e quanto do clado com flores vermelhas (Terra-Araujo et al. 2015). Porém, muitas espécies de Pradosia ainda são conhecidas por pouquíssimas coletas ou mesmo somente por uma única amostra! Por exemplo, P. argentea, P. cuatrecasasii, P. glaziovii, e P. mutissii eram conhecidas a partir dos tipos coletados há muito tempo e com baixa precisão na descrição da localidade.
Como consequência da falta de coletas adicionais, iniciativas que promovem a conservação biológica acreditaram que 3 das espécies estavam extintas e 10 estavam ameaçadas (IUCN red list 2012). Entretanto, o aumento do esforço de amostragem com foco no grupo tem revelado que estas espécies presumidamente consideradas extintas ou ameaçadas são mais comuns do que se acreditava. Por exemplo, uma das espécies consideradas extintas na lista da IUCN de 2014, Pradosia glaziovii (Pierre) T. D. Penn., uma árvore imensa que ocorre ao longo da costa na Mata Atlântica, era conhecida apenas para a localidade de coleta com outras amostras com identificações duvidosas datando até 180 anos atrás. O aumento do esforço de coleta e a realização de um estudo sistemático envolvendo caracteres morfológicos e moleculares mostrou que P. glaziovii é relativamente comum e que outra espécie considerada criticamente ameaçada de extinção, P. verrucosa Ducke, é na verdade um sinônimo de P. glaziovii.
Nessa excursão para o sul da Bahia encontramos novos registros para quatro espécies: P. longipedicellata, P. glaziovii, P. kuhlmannii e P. restingae. O resultado mais bacana sem dúvida foi para P. glaziovii e P. restingae. A primeira é super mal representada nas coleções botânicas e até pouco tempo atrás era tida como extinta. Já P. restingae era conhecida apenas para a região de Natal, RN. Foram coletadas ainda amostras de Ecclinusa (Sapotaceae), Pagamea (Rubiaceae), Ocotea (Lauraceae) e Protium (Burseraceae). Além das amostras coletadas, durante a visita ao CEPEC, foram fotografadas todas as exsicatas desses grupos de interesse, representando uma importante contribuição para o projeto da aluna Tatiana Carvalho que está trabalhando com Ecclinusa em seu mestrado.
Mário ficou feliz da vida ao encontrar a Pradosia glaziovii cheia de flores e frutos! |
Amostra de P. glaziovii com frutos. |
A coleta das amostras não foi tarefa fácil: foram necessárias duas tentativas em dias diferentes para alcançar - e derrubar - os ramos férteis contando apenas com um estilingue, peso e cordas. |
Saiba mais
- Terra-Araujo et al. 2015. Species tree phylogeny and biogeography of the Neotropical genus Pradosia (Sapotaceae, Chrysophylloideae). Molecular Phylogenetics and Evolution 87:1-13.
- Pós-doutorando :: Mário Terra-Araújo
- Aluno :: Ricardo Braga-Neto
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